Donald Trump é a Besta do Apocalipse? Um Olhar Cristão sobre Profecia e Política
O livro do Apocalipse, a última e mais enigmática parte da Bíblia, está repleto de imagens simbólicas que há séculos desafiam intérpretes, estudiosos e crentes. Entre as figuras mais assustadoras e debatidas está a “Besta” — um ser que representa o ápice do mal, a encarnação do poder corrompido e da rebelião contra Deus.

Em Apocalipse 13, essa criatura surge do mar com dez chifres e sete cabeças, um símbolo carregado de poder, inteligência e autoridade. O dragão — claramente identificado como Satanás — entrega à Besta seu trono e grande poder. O texto diz que ela se parece com um leopardo, tem pés como de urso e boca como de leão. Esses elementos são ecos diretos das visões de Daniel (capítulo 7), em que reinos pagãos e impérios opressores são retratados como feras que dominam o mundo. Ou seja, a Besta é mais do que um indivíduo: é uma coligação de sistemas, ideologias e autoridades espiritualmente hostis à verdade de Deus.
Essa figura não apenas detém domínio político, mas também exige adoração — uma forma de idolatria globalizada. Ela fala blasfêmias, ou seja, desafia diretamente a santidade e soberania divina. E mais: persegue os santos, ou seja, os fiéis, travando uma guerra espiritual contra aqueles que seguem o Cordeiro (Cristo). Portanto, ela representa o auge de um sistema mundial anticristão que mistura poder político, engano religioso e manipulação cultural.
Ao longo da história, essa imagem provocou interpretações diversas. Cristãos perseguidos do primeiro século viram no imperador Nero — famoso por sua crueldade e ódio aos cristãos — um retrato real da Besta. Já na Idade Média, muitos identificaram essa figura em líderes da Igreja corrompida. Reformadores como Martinho Lutero chegaram a associar o papado ao espírito da Besta. No século XX, nomes como Hitler e Stalin foram inseridos nessa narrativa, dada a brutalidade dos regimes que lideraram.
E hoje, em tempos de intensa polarização política e social, algumas pessoas do meio cristão têm lançado olhares suspeitos para figuras como Donald Trump, associando sua personalidade e trajetória à figura apocalíptica.
Por que essa associação com Trump?
Seus críticos apontam traços preocupantes: sua retórica agressiva, o culto à personalidade promovido por parte de seus seguidores, o uso recorrente de temas religiosos em seus discursos e a proximidade com líderes evangélicos influentes. Há quem enxergue nisso uma tentativa de instrumentalizar a fé para fins de poder — algo que lembra o modo como a Besta exige adoração e manipula as massas. Outros citam seu envolvimento em escândalos, o desprezo por normas diplomáticas e democráticas, e sua autoconfiança extrema como indícios de uma figura dominadora e sedutora, capaz de encantar as nações.
Contudo, é preciso cuidado. A profecia bíblica, especialmente a do Apocalipse, não deve ser interpretada de forma apressada ou partidária. A Besta, segundo os capítulos 13, 17 e 19, não é apenas um líder terreno, mas o reflexo de um sistema satânico que se infiltra em governos, religiões, culturas e até economias. Ela se associa a uma “grande prostituta” — imagem que representa uma estrutura global corrompida, sedutora e hostil a Deus. Essa entidade só será plenamente revelada nos últimos tempos, e seu fim está selado: será destruída por Cristo em Sua volta gloriosa.
Então Trump é ou não é a Besta?
É possível que certos aspectos de sua liderança reflitam traços do espírito da Besta — assim como outros líderes ao longo da história. No entanto, afirmar com certeza que ele é a Besta do Apocalipse é cair no erro da leitura superficial e imediatista das Escrituras. A verdadeira batalha descrita no Apocalipse é espiritual, não apenas política. Envolve ideologias, lealdades e a luta constante entre luz e trevas, verdade e mentira, adoração verdadeira e idolatria.
Mais importante do que identificar a Besta é discernir o espírito do tempo — o espírito do anticristo que, segundo o apóstolo João, “já está no mundo” (1 João 4:3). Esse espírito se manifesta sempre que o homem tenta ocupar o lugar de Deus, sempre que a verdade é suprimida pela conveniência, e sempre que o poder é usado para dominar e oprimir.
A pergunta que permanece é: estamos discernindo os sinais espirituais da nossa época? Ou estamos deixando que nossas visões políticas nos distraiam do verdadeiro chamado do Evangelho?
No fim das contas, a profecia do Apocalipse não nos convida a caçar figuras políticas, mas a nos manter vigilantes, fiéis ao Cordeiro, e a rejeitar qualquer sistema — seja de direita ou de esquerda — que tente substituir Cristo como Senhor absoluto sobre todas as coisas.