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Quem São os Filhos de Deus em Gênesis 6

    O capítulo 6 do livro de Gênesis contém um dos textos mais enigmáticos da Bíblia. Ele fala sobre os “filhos de Deus” que tomaram para si as “filhas dos homens” e geraram uma descendência que trouxe corrupção e violência ao mundo, o que culminou no Dilúvio. Este artigo explora as interpretações teológicas e históricas sobre quem eram esses “filhos de Deus” e se eles poderiam ser anjos.

    pexels-pixabay-208001-jpg Quem São os Filhos de Deus em Gênesis 6

    O Texto de Gênesis 6:1-4

    Antes de analisarmos as possíveis interpretações, vejamos o texto em questão:

    “Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. Naqueles dias estavam os gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os varões de renome.”

    Interpretações Teológicas

    1. Filhos de Deus como Anjos Caídos

    Uma das interpretações mais antigas e populares é a de que os “filhos de Deus” mencionados em Gênesis 6 são anjos caídos. Esta visão é baseada em textos como o de Jó 1:6 e Jó 2:1, onde “filhos de Deus” claramente se refere a seres angélicos.

    Essa interpretação também é apoiada por alguns textos apócrifos e pseudo-epígrafos, como o Livro de Enoque, que descreve detalhadamente a queda dos anjos que cobiçaram mulheres humanas. Esses anjos, conhecidos como “Vigilantes”, teriam gerado uma raça de gigantes chamados Nefilins.

    2. Filhos de Deus como Descendentes de Sete

    Outra interpretação é que os “filhos de Deus” eram descendentes de Sete, o terceiro filho de Adão, enquanto as “filhas dos homens” eram descendentes de Caim. Esta visão sustenta que a linhagem de Sete era piedosa, enquanto a de Caim era ímpia. A união dessas duas linhagens teria levado à corrupção moral da humanidade.

    Essa interpretação encontra suporte no contexto imediato de Gênesis, que faz uma distinção clara entre as linhagens de Sete e Caim nos capítulos anteriores.

    3. Filhos de Deus como Nobres ou Governantes

    Uma terceira interpretação é que os “filhos de Deus” eram nobres ou governantes poderosos da época, que tomaram para si mulheres à força, abusando de seu poder. Esta visão se baseia no uso do termo “elohim” (que pode significar “deuses” ou “poderosos”) em outros contextos do Antigo Testamento.

    Análise Crítica

    Embora a interpretação de que os “filhos de Deus” eram anjos caídos seja fascinante e tenha um rico apoio na literatura judaica intertestamentária, ela apresenta desafios teológicos. Por exemplo, Jesus afirma em Mateus 22:30 que os anjos não se casam, o que sugere que eles não poderiam ter relações sexuais com humanos.

    A visão de que os “filhos de Deus” eram descendentes de Sete é teologicamente mais segura e harmoniza melhor com o contexto bíblico mais amplo. No entanto, esta interpretação tem menos suporte direto no texto de Gênesis 6 em si.

    A interpretação de que os “filhos de Deus” eram nobres ou governantes é interessante, mas menos comum entre os estudiosos.

    Conclusão

    A identidade dos “filhos de Deus” em Gênesis 6 permanece um mistério e um tema de debate entre teólogos e estudiosos da Bíblia. Enquanto algumas interpretações sugerem que eles eram anjos caídos, outras apontam para uma distinção entre linhagens humanas ou para figuras de poder da época. Cada interpretação tem seus méritos e desafios, e a verdadeira natureza desses seres talvez nunca seja completamente compreendida.

    Independentemente da interpretação que adotemos, a mensagem central de Gênesis 6 é clara: a corrupção e a violência se tornaram tão prevalentes na Terra que Deus decidiu reiniciar a humanidade através do Dilúvio, mantendo sua aliança com Noé e sua família como um novo começo para a criação.